China: A ostentação online sai de moda e o governo aperta o cerco
O fim da farra do luxo na internet chinesa
A China está passando uma régua bem firme no que pode ou não ser exibido nas redes sociais, e o alvo da vez são os influenciadores digitais que fazem da ostentação de luxo seu ganha-pão. Pense em carrões, mansões, joias e tudo mais que grita "eu sou rico!". Pois é, essa galera está enfrentando uma repressão pesada por parte do governo, que não quer nem saber de "culto ao dinheiro" ou de promover valores que consideram vulgares. A consequência? Muitas contas famosas banidas e um novo cenário digital que está se desenhando por lá. É a censura digital chinesa agindo forte, e a regulamentação de internet mostrando sua cara.
No centro dessa história toda está a Administração do Ciberespaço da China (CAC). Eles prometeram limpar a internet de qualquer conteúdo que exiba um estilo de vida que, para a maioria da população, é simplesmente inatingível. É uma medida que reflete uma bandeira do presidente Xi Jinping: a tal da "prosperidade comum". Basicamente, ele quer diminuir a desigualdade social e econômica. Essa campanha de controle de conteúdo e restrição de influenciadores é uma faceta importante da política atual. A CAC tem se mostrado cada vez mais ativa na fiscalização do ambiente online, aplicando multas e suspensões para garantir que as plataformas e os usuários sigam as diretrizes estabelecidas. Essa atuação é vista como um esforço para moldar a cultura digital do país, afastando-se de um consumo desenfreado e de uma busca incessante por bens materiais.
As celebridades do luxo que caíram do pedestal
Muita gente famosa que vivia de mostrar a vida de bacana acabou na mira. Um dos mais conhecidos, Wang Hongquanxing, que até ganhou o apelido de "Kim Kardashian da China", tinha milhões de seguidores. Ele era mestre em exibir joias caríssimas, roupas de grife e uma vida de pura opulência. Sua conta, claro, foi pro espaço. Outros que também levaram o banhammer foram a "Sister Abalone", que adorava mostrar suas mansões e itens de luxo, e o "Mr. Bo", famoso por seus carros esportivos e gastos sem limites. Esses são só alguns exemplos de como a fiscalização de influenciadores está sendo rigorosa. A lista de contas suspensas e banidas é extensa, e a cada dia novos nomes surgem nas notícias, mostrando que a operação é séria e abrangente.
Esses influenciadores, antes idolatrados por milhões, agora veem suas fortunas virtuais se desmoronarem. Muitos deles construíram impérios baseados na exibição de uma vida de conto de fadas, vendendo não apenas produtos, mas um estilo de vida inatingível para a maioria. A queda desses "reis da ostentação" serve como um aviso para outros que ainda operam nesse nicho, indicando que a era da exibição irrestrita de riqueza chegou ao fim na China. As plataformas de mídia social chinesas, como o Douyin (que é a versão chinesa do TikTok) e o Weibo, estão jogando junto com o governo. Elas estão removendo conteúdo e suspendendo as contas de quem desobedece às novas regras. A justificativa oficial para toda essa repressão? A ideia de que exibir riqueza online pode corromper os valores sociais, especialmente entre os jovens, e criar uma atmosfera de "adoração ao dinheiro". É a vigilância online em ação, visando a ética digital e o comportamento online. As empresas de tecnologia chinesas, que já operam sob um regime de controle rigoroso, não tiveram outra opção a não ser cooperar plenamente com as exigências governamentais, implementando algoritmos mais sofisticados para detectar e remover conteúdo considerado inadequado.
O debate e o futuro da internet na China
Essa atitude do governo chinês gerou um baita burburinho. De um lado, tem quem apoie, vendo a medida como uma forma de ter uma sociedade mais justa e com valores mais sólidos. Para essas pessoas, é uma maneira de combater a desigualdade social e promover o consumo consciente. Elas argumentam que a ostentação online cria uma pressão desnecessária sobre os jovens, que podem se sentir inferiores por não conseguir replicar o mesmo nível de riqueza. A ideia é incentivar um comportamento mais equilibrado e focado em valores que vão além do material.
Do outro, tem quem enxergue isso como um cerceamento da liberdade de expressão e até mesmo do estilo de vida de cada um. É a eterna briga entre liberdade de expressão e o controle estatal. Para esses críticos, o governo está indo longe demais, ditando o que as pessoas podem ou não exibir de suas vidas, mesmo que de forma privada. Eles argumentam que a riqueza, quando legítima, não deveria ser escondida e que a medida pode sufocar a criatividade e a individualidade no ambiente digital. Há uma preocupação crescente de que essa repressão possa se estender a outras áreas do comportamento online, limitando ainda mais o espaço para a expressão individual.
As motivações por trás da "prosperidade comum"
A política da "prosperidade comum" não é apenas um slogan; é um pilar central da atual administração chinesa. Além de combater a desigualdade social, ela visa fortalecer a legitimidade do Partido Comunista Chinês, mostrando que o governo está atento às necessidades da população e preocupado com a justiça social. A ideia é criar uma sociedade mais harmoniosa e estável, onde as disparidades econômicas não gerem descontentamento e instabilidade. Essa estratégia também busca redirecionar o foco da economia de um crescimento impulsionado pelo consumo de luxo para um desenvolvimento mais sustentável e equitativo.
Essa política se manifesta em diversas frentes, desde a regulamentação de setores como a tecnologia e a educação, até campanhas como a que visa os influenciadores de ostentação. O governo chinês parece determinado a redefinir o que significa ser "bem-sucedido" no país, afastando-se do materialismo exacerbado e promovendo valores mais alinhados com sua visão de uma sociedade socialista moderna. A mensagem é clara: o sucesso não deve ser medido apenas pela quantidade de bens materiais que uma pessoa possui, mas também pela sua contribuição para a sociedade e pela sua conformidade com os valores coletivos.
Um novo paradigma para o marketing de influência?
Com a queda dos influenciadores de ostentação, surge a pergunta: qual será o futuro do marketing de influência na China? É provável que vejamos uma mudança significativa no tipo de conteúdo que é promovido e nos perfis de influenciadores que são valorizados. As marcas talvez precisem adaptar suas estratégias, buscando influenciadores que transmitam valores mais alinhados com as diretrizes governamentais, como a simplicidade, o esforço e a contribuição para a comunidade. Podemos esperar um aumento na popularidade de influenciadores focados em educação, sustentabilidade, vida saudável e cultura, em detrimento daqueles que priorizam o exibicionismo.
Essa mudança pode levar a um cenário digital mais "limpo" e menos focado no consumo excessivo, mas também levanta questões sobre a autonomia criativa e a diversidade de conteúdo. As plataformas e os próprios influenciadores terão que navegar nesse novo ambiente, buscando maneiras de se conectar com suas audiências sem cruzar as linhas vermelhas impostas pelo governo. É um desafio e tanto, mas que pode gerar novas formas de engajamento e comunicação online. O que está claro é que a era de exibir riqueza sem limites na internet chinesa chegou ao fim.
Independentemente de quem está certo ou errado, essa repressão aos influenciadores de ostentação é um marco na cultura da internet chinesa. O futuro de quem construiu a carreira mostrando a vida de luxo é incerto, e o recado do governo é claro: a festa da ostentação online acabou.