Bolsonaro Contra-Ataca e Questiona "Golpe Fantasma"
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) elevou o tom no embate com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), jogando lenha na fogueira da polêmica sobre a suposta tentativa de golpe de Estado. Em entrevista exclusiva ao programa "Oeste Sem Filtro" desta terça-feira (6), Bolsonaro não poupou críticas ao magistrado e desafiou-o publicamente a apresentar a tão falada "minuta do golpe". Segundo o ex-chefe do Executivo, a não divulgação desse documento seria a prova cabal de que a Suprema Corte não possui elementos concretos para incriminá-lo.
Com a verve de sempre, Bolsonaro insinuou que o seu destino judicial já estaria selado, independentemente das provas. "Contudo, já está com a sentença pronta", disparou, prevendo um futuro sombrio para sua situação legal. "A expectativa é me julgar neste ano para me condenar a 38 anos de cadeia." A declaração, carregada de dramaticidade, ecoa as alegações de perseguição política que o ex-presidente tem proferido desde que deixou o Palácio do Planalto. A tensão entre Bolsonaro e o STF, especialmente com o ministro Moraes, é um capítulo antigo e ruidoso da política brasileira, marcado por acusações mútuas e investigações complexas.
"Urnas Inseguras" e a Coincidência com Dino
Em um lance retórico que buscou desestabilizar a narrativa da acusação, Bolsonaro trouxe à tona uma declaração antiga do atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. Em novembro de 2013, Dino, à época magistrado, teria afirmado que "as urnas eletrônicas são extremamente inseguras e suscetíveis a fraudes". A lembrança dessa fala não foi aleatória. Dino integrou o colegiado do STF que, no final de março, formalizou a condição de réu de Bolsonaro pelos alegados crimes de golpe de Estado e tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito.
A estratégia de Bolsonaro parece clara: lançar dúvidas sobre a imparcialidade do processo e questionar a coerência de figuras centrais na sua acusação. Ao evocar as críticas passadas de Dino ao sistema eleitoral, o ex-presidente tenta construir uma narrativa de que até mesmo membros do atual governo já compartilharam desconfianças semelhantes, enfraquecendo, assim, a solidez das acusações que pesam sobre ele. A defesa de Bolsonaro tem explorado repetidamente o tema da segurança das urnas eletrônicas, mesmo sem apresentar evidências robustas de fraude nas eleições de 2022.
Contra-Ataque Direto ao STF e a Flávio Dino
Ainda na entrevista, Bolsonaro elevou o tom das críticas, sugerindo que Flávio Dino também deveria ser alvo de investigação e julgamento, em função de suas declarações de 2013 sobre a vulnerabilidade das urnas eletrônicas. "Dino também deveria ser julgado", sentenciou o ex-presidente, buscando equiparar suas próprias ações e falas com as manifestações pretéritas do atual ministro da Justiça. Essa tática de transferir o foco da acusação para os acusadores é uma manobra clássica em estratégias de defesa política.
Bolsonaro não parou por aí. Ele questionou abertamente a isenção dos ministros do Supremo Tribunal Federal no seu caso. "Os juízes do STF são suspeitos", afirmou, colocando em xeque a legitimidade do processo judicial que o tem como alvo. Para o ex-presidente, se o caso fosse analisado em primeira instância, o desfecho seria completamente diferente. "Em primeira instância, o processo estaria arquivado", cravou, demonstrando profunda desconfiança no sistema de justiça em suas instâncias superiores. A alegação de suspeição dos magistrados é um argumento forte, que busca minar a credibilidade das decisões judiciais futuras.
Escândalo no INSS e a MP da "Faxina"
Em um movimento que buscou desviar o foco das acusações contra si, Bolsonaro trouxe à tona o recente escândalo de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que tem gerado grande repercussão no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente aproveitou a oportunidade para contrapor a situação atual com as ações que implementou durante sua gestão, buscando pintar um quadro de contraste entre sua administração e a do atual governo.
Bolsonaro fez questão de lembrar a Medida Provisória nº 871/2019, que instituiu um programa especial de análise dos benefícios do INSS com indícios de irregularidades. Segundo ele, o objetivo principal da medida era justamente controlar as questões financeiras envolvendo o instituto previdenciário e combater possíveis fraudes. "Quando assumimos, tomamos todas as medidas contra os abusos dos sindicatos", declarou Bolsonaro, buscando se apresentar como um gestor preocupado com a integridade dos recursos públicos.
Ataque ao PT e a Eleições de 2026
Ao abordar o escândalo do INSS, Bolsonaro não perdeu a chance de direcionar suas críticas ao Partido dos Trabalhadores (PT), legenda do atual presidente Lula. Para o ex-presidente, o caso é "abominável" por atingir diretamente a parcela mais vulnerável da população. "Esse é o PT, que pretende me tirar da disputa eleitoral do ano que vem", acusou Bolsonaro, conectando o escândalo com suas próprias ambições políticas e a percepção de que seus adversários buscam impedi-lo de concorrer nas eleições de 2026.
A estratégia de Bolsonaro de ligar o escândalo do INSS ao PT e às suas próprias perspectivas eleitorais é uma tentativa de mobilizar sua base de apoio e desviar a atenção das investigações que o envolvem. Ao se apresentar como vítima de uma perseguição política orquestrada pelo PT, o ex-presidente busca fortalecer sua narrativa e manter sua relevância no cenário político nacional. A polarização política, que tem marcado os últimos anos no Brasil, continua sendo um elemento central na retórica de Bolsonaro.
Em suma, a entrevista de Jair Bolsonaro ao "Oeste Sem Filtro" representou um contra-ataque direto às acusações de tentativa de golpe e ao ministro Alexandre de Moraes. Utilizando uma retórica inflamada e buscando fragilizar a credibilidade dos seus acusadores, o ex-presidente tenta se defender das investigações e manter viva sua influência política, mirando as eleições futuras. A batalha judicial e política em torno do suposto "golpe fantasma" parece longe de um desfecho.
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