Às vezes, a verdade demora, mas encontra seu caminho. E quando encontra, o estrago é grande para quem tentou escondê-la. Foi mais ou menos isso que aconteceu com o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, que de repente se viu encurralado e, ao que tudo indica, preferiu virar a mesa a afundar junto com seus antigos colegas. O palco para essa reviravolta foi o Supremo Tribunal Federal, onde a pressão do ministro Alexandre de Moraes parece ter sido decisiva para desatar a língua do general.
O Gelo da PF e o Calor do STF
A história do general Freire Gomes começa com um depoimento à Polícia Federal. Ali, a narrativa era mais morna, com nuances, talvez uma tentativa de proteger nomes importantes e, por que não, o próprio. Aquele tom "jornalístico" que tentamos evitar aqui, mas que permeia os corredores da Justiça, era o de quem pisa em ovos, calculando cada palavra para não criar mais problemas do que já existem. A ideia, aparentemente, era dar uma suavizada na situação, minimizando o plano golpista que rondava a cúpula do poder. A verdade é que muitos esperavam mais de um depoimento crucial como esse, mas a cautela, ou o medo, ditou o ritmo.
Ocorre que a PF é só o começo do caminho. O verdadeiro teste, o calor da inquisição, vem no STF. E foi lá que o general Freire Gomes se viu em apuros. O ministro Alexandre de Moraes, conhecido por sua linha dura e por não se intimidar com patentes, percebeu as pontas soltas, as contradições entre o que Freire Gomes disse e o que outras investigações já apontavam. A pressão aumentou. Não era mais uma questão de "achar" ou "acreditar", mas sim de confrontar fatos e inconsistências. A sala do Supremo, outrora palco de um depoimento mais brando, transformou-se em um ringue onde a verdade era a única campeã possível.
A Encruzilhada do General: Proteger ou Entregar?
Chega um momento em que a lealdade tem um preço alto demais. E para o general Freire Gomes, esse momento chegou quando as contradições se tornaram insustentáveis. O ministro Moraes, com sua oratória afiada e seu conhecimento profundo dos autos, colocou o ex-comandante do Exército em uma encruzilhada: manter a versão "suavizada" da PF e afundar junto com os demais, ou entregar o jogo e se livrar de um peso que parecia cada vez maior. A escolha, ao que tudo indica, foi por esta última opção. É a famosa estratégia do "cada um por si", comum em momentos de crise e quando a corda começa a apertar para valer.
E foi aí que o general Freire Gomes, que antes parecia empenhado em uma espécie de pacto de silêncio, decidiu abrir o jogo. Ele confirmou o que muitos já desconfiavam e o que as investigações já vinham revelando: seu antigo chefe, o ex-presidente Jair Bolsonaro, estava, sim, envolvido em uma trama para dar um golpe de Estado e derrubar a democracia brasileira. A declaração é um tiro no coração do que restava da narrativa de que tudo não passava de "fake news" ou de "perseguição política". Não é pouca coisa. A palavra de um ex-comandante do Exército tem um peso gigantesco em qualquer investigação, e essa confirmação fortalece ainda mais a tese de que houve um plano real e articulado para subverter a ordem democrática. É um divisor de águas na investigação.
O Conto do Vigário Desfeito e a Conta Chegando
A confirmação de Freire Gomes tem um impacto sísmico. Desmonta de vez o conto do vigário de que o Brasil não viveu uma tentativa de golpe, mas apenas "atos democráticos" ou "manifestações espontâneas". Não, o que existia era um plano golpista arquitetado nos bastidores, com a participação de figuras importantes do governo e das Forças Armadas. As evidências de golpe se acumulam, e o depoimento do general é mais uma peça-chave nesse quebra-cabeça complexo.
Agora, com a verdade vindo à tona de maneira tão contundente, o momento da responsabilização está cada vez mais próximo. Aqueles que, de alguma forma, participaram ou compactuaram com a tentativa de golpe terão que pagar a conta. Seja no campo jurídico, com processos e condenações, seja no campo político, com a perda de direitos e a mancha na reputação. A justiça é lenta, mas parece estar, finalmente, chegando para aqueles que ousaram ameaçar a estabilidade democrática do país. As investigações seguem a todo vapor, e cada nova peça, como o depoimento de Freire Gomes, solidifica o caminho para as punições.
A história está sendo escrita, e as páginas do que aconteceu nos últimos anos estão sendo preenchidas com fatos, e não com versões convenientes. O Brasil merece saber a verdade, e parece que, aos poucos, ela está sendo revelada. A democracia, mesmo sob ataque, mostra sua resiliência e a capacidade de se defender. E aqueles que apostaram contra ela, bem, esses terão que enfrentar as consequências.
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